Sei que é clichê começar qualquer post dizendo que ser mãe é difícil. Queiram me desculpar os leitores, mas hoje isso é inevitável. Desde a última quarta-feira - dia do meu acidente - parece que a minha vida está de cabeça pra baixo, tem toda a burocracia do seguro, eu sem saber se o dinheiro que sobrará da indenização vai ser suficiente para dar entrada num outro carro, o risco de passar um bom tempo de ônibus outra vez, porque boa parte do meu salário está indo embora com as prestações do apartamento... Como tudo isso parecia pouco, na quinta-feira Lulu me apareceu com uma febre súbita, sem qualquer outro sintoma, e caiu de cama. Domingo, batizado marcado (demorei tanto pra conseguir conciliar o meu horário com o dos padrinhos dela, ambos médicos...), aquele bolinho básico para comemorar, e Lulu amanhece toda pintadinha de rosa, sem querer conversa com Seu Ninguém. Diagnóstico: uma virose exantemática qualquer, daquelas que se trata com antitérmicos e paciência. Resultado: fora o fato de Lulu ter recebido um sacramento e se tornado filha de Deus, o resto do batizado foi um fiasco.
Só pra constar, agora ela está ótchima! Apenas um pouco magrinha, mas já voltou a destruir a casa, como é de praxe. Passo eu então a pensar na burocracia do seguro, e acabo tendo que faltar alguns turnos de trabalho no posto para resolver as pendências. Não deixei nenhum paciente esperando, remarquei todos, avisei a todo mundo, enfim, fiz o certo (pelo menos eu acho). Acontece que oficialmente eu sou funcionária da prefeitura e devo satisfações aos superiores da Atenção Básica à Saúde do município. Estes partem do princípio de que todo médico é mercenário, quer ganhar dinheiro e não cumpre suas obrigações, então resolvem questionar as minhas faltas como se eu estivesse inventando desculpas para não ir trabalhar, e cobram que eu apresente "declarações de comparecimento", inclusive do Batalhão da Polícia Rodoviária, ao qual fui hoje. Então eu - a vítima - passo a ter que provar que sofri um acidente e estou resolvendo as broncas. Se alguém concorda que isso não está certo, por favor, levante a mão.
Não se avexem os leitores, o post é longo mas tem sentido. Pois bem, vou ter que ir novamente ao Batalhão da Polícia na próxima segunda, porque eles só entregam o BO depois de 7 dias da solicitação, e eu preciso desse documento para enviar à seguradora. Para não levar falta nem prejudicar o atendimento aos idosos, que é feito nas segundas pela manhã, eu combinei com os outros funcionários do posto que irei atender na sexta-feira (minha folga), assim ninguém fica triste. Fui falar pra minha mãe, porque Ana Luiza fica com ela: mamãe faz cara feia e diz "Aí é fogo, Marcella, eu já tinha combinado de ir ao centro da cidade fazer compras!". Agora vejam: eu pedi pra ela ficar com Lulu porque eu iria à praia me divertir? Por acaso estou achando maravilhoso ter que ir trabalhar na minha folga por conta da intransigência dos meus supervisores? Mamãe não admite que eu contrate alguém para ajudá-la com Ana Luiza, mas também não quer abrir mão de nada se eu tiver alguma coisa pra resolver fora do horário já estabelecido. Então é para eu parar de trabalhar e cuidar da minha própria filha, sem dar trabalho a ninguém? Alguém sabe a solução?
Daí voltamos ao ponto da dificuldade de ser mãe. É obrigação da mãe modificar seus planos, adiar projetos e anular uma parte da sua vida para dedicar-se aos filhos, e quem achar o contrário é uma mulher terrível, abominável. Assim pensam a minha própria mãe (que teve de largar faculdade e emprego para cuidar de mim) e o meu digníssimo esposo (que disse ter se decepcionado com o meu comportamento durante a gravidez apenas porque eu não passei os 9 meses suspirando com sapatinhos de bebê...). Então ele acha super natural traçar metas para o próximo ano, planejar entrar numa pós-graduação e tal, mas eu não posso pensar em nada parecido, porque existe um bebê e é meu dever abrir mão de tudo para ficar com ele. Então eu não posso querer ir ao show de Roupa Nova na próxima sexta à noite porque mamãe só fica com Ana Luiza se eu for trabalhar, não se eu for me divertir (aliás, depois de virar mãe a mulher só tem o direito de se divertir com os desenhos do Discovery Kids). E aí quando Ana Luiza tiver lá seus 3, 4 aninhos e adquirir maturidade e independência, virá outro bebê e começará tudo de novo.
Ainda bem que pelo menos eu tenho o Veleiro e minha Coca-cola de 2 litros...