domingo, 8 de novembro de 2009

SOBRE A BURRINHA DA FELICIDADE




22 semanas já se passaram desde que Ana Luiza surgiu no Universo. Faltam 15 para ela estar pronta. Passo o dia e a noite sentindo chutes e cambalhotas de alguém que já está achando o lugar em que vive muito apertado... Ainda bem que ela nem vai chegar a saber o que é viver num apartamento do Chico...

Na próxima quarta-feira recebo as chaves do meu novo lar, um apartamento de 3 quartos na Sudene, no térreo, reformado, 2 banheiros, 1 suíte, área de serviço, sala de jantar... Meu pesadelo acabou. Não é próprio, mas já é um passo adiante. Só em não ter que fazer parte dessa "comunidade" na qual passei meus últimos dois anos, só isso já faz a diferença. Além do mais é muito perto da minha mãe. E na hora em que um bebê anuncia sua chegada, uma marinheira de primeira viagem como eu precisa desesperadamente da ajuda da mãe.

Segurar bebês assim que nascem e dar os primeiros cuidados é muito fácil. Não parece, mas eles são fortes e durinhos. Não precisa de muito caqueado para segurar um bebê logo após o parto: basta pegar no pescoço e nas pernas e levar ao bercinho aquecido. Eles já estão tão incomodados que nem ligam se você os apertar. Mas depois das primeiras horas a coisa muda. Ficam molinhos e frágeis. Nesse momento não adiantam nada minhas horas de sala de parto: não sei segurar um bebê a partir daí. Não sei o que fazer com eles. Não sei segurar para dar de mamar. Aliás, dar de mamar deve ser muito estranho. Eu achava que bebês mexendo dentro da barriga seria estranho, e hoje posso confirmar que é, sim, senhora. É interessante saber que existe um serzinho com movimentos próprios dentro de você, mas não deixa de ser estranho. Ana Luiza passa o dia fazendo ginástica. Quando puder andar eu que me prepare... Às vezes peço para ela ficar quietinha, só pra variar, porque a barriga fica tão esticada que parece que vai estourar, e isso incomoda. Mas, se ela escuta, provavelmente deve dar um risinho e ignorar os apelos da mãe. Sinal de saúde, eu sei, e isso ela tem de sobra. Eu é que tenho que me acostumar em suportar meus incômodos pelo bem dela. Não é o papel da mãe?

Por mais que eu saiba que ela existe e que possa vê-la nas USG, Ana Luiza ainda é uma idéia. Depois do parto essa idéia vai tomar forma, chorar, fazer cocô, dormir. É outra pessoa que surgiu de dentro de mim. Eu sou capaz de gerar outra pessoa! Isso não é incrível? Claro, eu sei, vi na escola, na faculdade, mas ainda não tinha visto em mim mesma. Tem tanta coisa que eu acho que não sou capaz de fazer: cozinhar bem, dirigir bem, piscar um olho só... Aí de repente eu gero uma criatura, um serzinho perfeito, com dois olhinhos, dois bracinhos, duas perninhas, hemisférios cerebrais no seu lugar, que já, já nasce e vai se mexer sozinha, chorar quando quiser, olhar para onde quiser, independente da minha vontade. Cuidei do meu cachorro, ele me ama, eu o amo também, mas ele não veio de mim. Ana Luiza vai vir. Isso é mesmo incrível...

Recebi meu primeiro salário e isso me possibilita pensar mais nessa história de ser mãe e cuidar de alguém. Enquanto minha mãe me sustentava não estava conseguindo me ver como provedora de outra pessoa (se eu nem conseguia me manter sozinha...). Agora posso imaginar o quarto dela no apartamento que tem espaço de sobra, fazer planos, executá-los. Trabalhar na Charneca não é tarefa fácil, isso eu digo e repito quantas vezes for necessário. Mas pagar contas, sair do SPC, dar adeus ao Chico, isso compensa qualquer sacrifício.

"A Natureza das Coisas" nunca foi tão minha música quanto é agora...

"Se avexe não
Amanhã pode acontecer tudo, inclusive nada
Se avexe não
A lagarta rasteja até o dia em que cria asa..."