sexta-feira, 27 de março de 2009

EU QUERO! EU QUERO! ME ESCOLHE! ME ESCOLHEEEE!


Pô, já que é assim, então dá uma chancezinha para mim, vai...

Profissionais da saúde já constataram: os jovens formados em Medicina estão desistindo de ser pediatras. É um fenômeno novo, pouquíssimo estudado, mas de efeitos devastadores se nada for feito para reverter o quadro. Se hoje sobram vagas para a especialização em pediatria, num futuro próximo vão faltar médicos que cuidem das crianças e dos adolescentes.

Nos hospitais e postos de atendimento das periferias, esse tipo de profissional começa a rarear. Quem pode, opta por trabalhar em clínicas particulares, mal remunerado pelos planos de saúde. E quem não tem escolha enfrenta nos plantões a ira de pais desesperados por seus filhos. Em outras palavras: a situação tende a piorar.

(...)O alarme faz sentido. Das prováveis causas que têm afugentado os jovens médicos da pediatria, nenhuma parece reversível num curto prazo. A principal é a baixa remuneração. Um pediatra, depois de estudar seis anos e ter no mínimo 5 mil horas de treinamento, ganha pouco mais de R$2 mil. Então ele entra numa sala de parto e descobre, estupefato, que recebe R$20 por por cirurgia ante os R$110 de um obstetra. E se sente menos médico que outros médicos.

Depois de um ano de residência médica, Enna Cristina Liu, de 26 anos, desistiu de fazer pediatria. No HC, descobriu que sua vocação não devia ser aquela. Afinal, quem gosta da área não pode se importar tanto com os cansativos plantões, o desgaste no contato com os pacientes, a tensão na UTI, os megacuidados do berçário. Formada pela Universidade de São Paulo, ela recomeçou em outra área, a de medicina da família. Pensa em fazer nova residência, mas por enquanto atua como médica de uma unidade básica de saúde no Ipiranga, com trabalho de 40 horas semanais e salário de R$4 mil. "Quero ter tempo para estudar, viajar, ficar com os amigos, ir à igreja. Na residência médica tive de abrir mão de muita coisa."

Até os anos 90, pediatria figurou algumas vezes entre a mais cobiçada das especialidades, quando havia uma prevalência de homens. Com o aumento expressivo de mulheres estudando Medicina, a área sofreu uma feminização. Paralelamente, o mercado saturou-se. Interessado em ganhar mais, o jovem procura subespecializações. "Vejo que ele gosta de áreas relacionadas a máquinas, às novidades." Atrás de uma máquina, seguramente não há um pai ou uma mãe cobrando a cura de seu filho...

Fonte: O Estado de S. Paulo - 14/05/06 - disponível no site da Sociedade Mineira de Pediatria - http://www.smp.org.br/atualizacao/view.php?id=2484

RESIDÊNCIA, SOLIDÃO E DISCIPLINA MILITAR...


O ano da Residência me fez lembrar uma conclusão dos tempos do vestibular: é muito ruim estudar sozinha. Melhor é reunir ao menos mais uma pessoa, que tenha tanto conhecimento quanto você, e estudar juntos. Porque ler páginas e páginas sem trocar uma idéia com alguém chega a ser insuportável dependendo do seu grau de chateação...

Andando por sites de medicina (para arranjar vontade de estudar nesta sexta-feira, véspera de mais um final de semana de SJT + Memorial...), vi uma dica muuuito pertinente:

Cansado de tanto estudar para a residência médica? Vá investir na bolsa de valores em ações e opções!

Sábia colocação! Se não precisasse de dinheiro para isso eu largava esse computador já!

Outra dica excelente:

Sem tempo para estudar para a prova de residência médica, o recém-formado em medicina Adriano de Oliveira Seixas, 26, começou a praticar o sono polifásico para conseguir algumas horas extras de estudo nas madrugadas, porque trabalhava diariamente das 8h às 19h. Durante seis meses, dormiu três horas por noite, complementadas por cochilos de 20 minutos programados a cada seis horas durante o dia.

Agora olhem bem para mim e vejam se eu tenho perfil de quem dorme 3 horas por noite! Juro que gostaria muuuito que isso acontecesse, mas devo sofrer da doença crônica do sono, aquela que encerra o expediente diário às 8 da noite e não o reinicia antes das 6 da manhã. Claro que ando me prejudicando infinitamente com essa minha total incapacidade de ficar acordada até tarde. O Capitão estranhou no início - porque eu não pareço estar dormindo, pareço estar EM COMA - mas agora já se acostumou com minha hibernação noturna, onde eu não falo, não respondo a estímulos, não me mexo, nada. O único problema é que são tantas páginas de apostila para ler, mas tantas, que eu precisaria de fato dormir umas 3 horas apenas para tentar dar conta...

É, eu reclamo muito mesmo. Se precisa de tanto tempo assim, então pare agora de ler bobagens na internet e vá estudar, não é verdade? Já é 1 e meia da tarde, chega de fazer corpo mole! Um, dois, um, dois!

Ordinário, MAAARCHE!!!


sexta-feira, 20 de março de 2009

CANSADA DISSO TUDO...


Eu leio blogs de pessoas que nem conheço e também deixo recados, mas foi estranho ver isso acontecer aqui no Veleiro (vide post anterior). Não é engraçado ver que a minha vidinha despertou curiosidade em alguém?

Chegou a sexta-feira, mesmo que eu tenha seminário de Ginecologia para apresentar hoje, enfermaria amanhã e plantão domingo. Mesmo assim a sexta-feira parece sempre mais leve...

Tomara que dra. Mariléa me deixe ficar no ambulatório de manhã para eu poder me recolher em casa durante toda a tarde...

5 e meia e começa tudo outra vez...

segunda-feira, 16 de março de 2009

O ÓBVIO


Levei ponto de corte no concurso do Estado. Na verdade eu poderia estar muuuuito triste, mas estou só triste. Qual é a novidade no fato de eu fazer um concurso e não conseguir passar? Por acaso é a primeira vez que isso acontece na minha vida? Não, e esse Veleiro sabe disso. Claro que eu queria ter pelo menos livrado o ponto de corte - porque de certa forma isso faz vergonha - mas não muda o conceito que tenho sobre mim mesma. Eu teria mais capacidade de ser médica se não tivesse trocado a resposta de 4 questões (as quais tinha acertado e errei porque mudei)? Teria livrado o ponto de corte, mas acertar 27 soaria tão medíocre quanto as 23 que acertei. Fim de papo.

Era para eu estar muuuito triste, porque nenhum dos meus amigos levou ponto de corte, todos estão concorrendo a uma vaga, nem que seja daqui a 2 anos, enquanto eu não tenho direito nem de sonhar. Porque quero ser pediatra e essa prova só vem comprovar que eu não sei nada de clínica, nada de cirurgia e - agora - nada de pediatria também. Que eu estou me formando em medicina mas não sei nada. Talvez para quem esteja de fora o simples fato de estar se formando já signifique muita coisa, mas quando você lida diariamente com outros estudantes que conseguem responder às perguntas dos preceptores nas visitas, não se embananam dentro do bloco cirúrgico e ao menos livram o ponto de corte nos concursos é possível ter bem claro que só terminar o curso NÃO QUER DIZER que você seja médico. E todo dia eu olho para mim mesma e pergunto: "Como é que eu consegui chegar até aqui e não sei isso?".

Assim, levei ponto de corte, mas isso não chega a ser uma decepção. Ao contrário, se eu passasse é que seria uma surpresa. Levar ponto de corte significa que eu sou uma formanda medíocre? Tá, e qual é a novidade? É exatamente isso que eu vejo em mim todos os dias, que eu vi durante o mês inteiro que passei com Bacelar no IMIP, cada vez que ele perguntava o óbvio e da minha boca não saía nada que se aproveitasse, ou que vi na última sexta-feira, no bloco cirúrgico, quando eu não lembrava mais como se fazia uma sutura simples. Se quase todas as palavras em medicina me soam "familiares" mas poucas têm um "significado", no meu penúltimo rodízio, faltando 19 semanas para o fim do curso, o que mais se podia esperar do que levar ponto de corte?

Não dói tanto levar ponto de corte: dói muito mais ter consciência de que eu não sei. Tinha staff do IMIP fazendo prova na minha sala: eles têm muito mais direito de passar do que eu, certamente vão atender melhor as criancinhas, são pediatras de verdade, com residência, com experiência. Se eu fosse uma boa doutoranda, uma doutoranda da qual os preceptores lembrassem e falassem bem (como falam de alguns que já passaram por eles), aí tudo bem, sempre vai haver concurso e, mesmo que não haja, nunca vai faltar emprego para pediatra nesse Brasil. Eu podia sonhar com a residência e ficar com a consciência tranquila. Mas eu sei que não sou uma boa doutoranda, sei porque lia isso nos olhos de Bacelar (Bacelar era meu preceptor no IMIP, excelente, inteligentíssimo e gente da melhor qualidade), e vou ficando pra trás porque para ser médico é preciso tem competência. E sinceramente, é seleção natural, as girafas de pescoço curto, mais cedo ou mais tarde, acabam morrendo de fome...

Chega.

"Os ancestrais das girafas, de acordo com o documentário fóssil, tinham pescoço significamente mais curtos. O comprimento do pescoço variava entre os indivíduos das populações ancestrais de girafas. Essa variação era de natureza hereditária. Indivíduos com pescoço mais longos alcançavam o alimento dos ramos mais altos das árvores. Por isso, tinham mais chance de sobreviver e deixar descendentes. A seleção natural, privilegiando os indivíduos de pescoço mais comprido durante milhares de gerações, é responsável pelo pescoço longo das girafas atuais."

(http://www.webciencia.com/14_girafa)

quinta-feira, 12 de março de 2009

E POR QUE NINGUÉM SE LEMBRA DE MIM???


Pronto: cheguei no meu Veleiro e minha vontade é levantar âncora (veleiros têm âncora???) e ir embora. Estou com uma sinusite terrível, uma dor de cabeça que não passa desde ontem, durmo e acordo com ela, N-A-D-A resolve e nem sequer alivia. Domingo é o concurso do Estado, para o qual eu me inscrevi de enxerida que sou, mas já me arrependi faz tempo de ter gasto 100 reais para nada (como se eu pudesse ficar por aí sacudindo 100 reais ao vento...). O Capitão foi fazer não-sei-o-quê na Rural desde as 3 da tarde e até uma hora dessas não voltou; enquanto isso eu fico aqui com fome e sozinha. Baixei provas de pediatria para resolver - porque a essa altura eu não vou ficar lendo teoria de Medcurso - mas minha cabeça não parece estar em condições de pensar em nada...

Por que eu tinha que escolher o caminho mais difícil, hein? Por que não fiz qualquer outra coisa na vida? POR QUE EU TINHA QUE QUERER SER MÉDICA???

Momento de crise existencial. Toda mulher tem um desses ao menos 1 vez por mês...

sexta-feira, 6 de março de 2009

MEU CORAÇÃO EM TUA CRUZ


O rodízio de Pediatria é morto. Segunda-feira começa o de Ginecologia. Em maio, Clínica Médica. E depois, caso eu sobreviva, alea jacta est: terei terminado esse curso sem fim.

Um comentário sobre a bola da vez da imprensa local: o caso da menina de 9 anos estuprada pelo padrasto e ex-grávida de gêmeos. Fizeram o aborto da menina e agora a nova mania nacional é crucificar Dom José Cardoso por ter dito que todos os envolvidos no processo (exceto a garota) estão automaticamente excomungados pela Igreja. Peraí, devagar com o andor! Faço minhas as palavras do filósofo Cardinot: quem é católico praticante SABE que aborto é pecado, condenado pela Igreja, sendo uma infração ao 5º mandamento (Não matarás). Está no Catecismo, não é invenção de Dom José. O Código de Direito Canônico pune os praticantes deste pecado com a excomunhão. Isso é automático e INDEPENDE da vontade do arcebispo: ele apenas faz o que a lei da Igreja manda. Agora, se a lei brasileira aprova o aborto em casos de estupro, pois bem, é uma posição dela. A Igreja não é obrigada a ir contra os seus princípios - construídos sobre uma base de mais de 2000 anos - para atender à legislação do país A ou B. Para ser bem sincera, neste país ninguém pergunta a posição da Igreja para tomar decisão nenhuma, ou pergunta? O Ministro da Saúde perguntou o que o bispo achava antes de autorizar a distribuição de camisinhas no Carnaval, pregando a prática do sexo livre e "seguro"? Diga-se de passagem, se alguém de fato usasse aquelas camisinhas eu não via o que vejo no Memorial, aquelas mulheres sem nenhum futuro, já HIV positivas, dando à luz criança atrás de criança, sem a menor preocupação com a vida delas. Mas ele acha que distribuindo preservativo e fazendo comercial na TV está evitando a propagação das DSTs. Ninguém quer saber o que a Igreja acha disso, nessa hora a opinião do bispo não tem nenhuma importância. Agora numa questão polêmica como a dessa menina, em que todo mundo fica cheio de dedos para dar uma posição, aí sim, chama o bispo, pergunta o que é que ele acha, para depois cair em cima dele. Quer dizer que agora o fato de todo mundo ter sido excomungado importa? É todo mundo santo, frequentador da Igreja, e estão deseperados com o fato de não poderem mais receber a comunhão? Se fossem, sabiam que aborto era pecado, sabiam que iriam se punidos e NÃO TINHAM FEITO. Se fizeram, então vamos deixar de hipocrisia porque isso significa que a opinião do bispo não tem importância nenhuma.

Não sou defensora de Dom José. Acho que ele é muito severo e erra bastante em várias questões. Mas nesse caso eu tenho que defender a minha fé e a minha Igreja. O Ministro do Meio Ambiente disse na TV que estava "revoltado" com a posição de Dom José. Senhor ministro, com todo respeito, o senhor fica igualmente revoltado com o fato de que a lei brasileira condena os estupradores a NO MÁXIMO 10 anos de prisão? Ou seja, o senhor fica revoltado com o fato de que o monstro que abusou dessa menina por 3 anos (desde que ela tinha 6) provavelmente vai ser solto antes que ela entre na maioridade? Isso revolta o senhor? Será que só existe ela no país inteiro? Cardinot deu pelo menos mais 3 exemplos recentes, inclusive de uma menina de 10 anos que engravidou e TEVE O BEBÊ do padrasto. Se as autoridades usassem a "revolta" de que falou o ministro para tornar as leis mais rigorosas e punir verdadeiramente esses criminosos, talvez tivéssemos resultados mais efetivos e não precisássemos mais discutir se devemos ou não permitir o aborto em casos parecidos com esse. Até porque, pergunto eu, tirar os gêmeos da menina resolveu o problema ou apenas aliviou o incômodo da sociedade de ver sua hipocrisia crescendo junto com a barriga dela?

Sou contra o aborto, como católica e (quase) médica. Em qualquer circunstância. Mas não sou capaz de condenar essa menina nem a mãe dela, apenas acho que não deveria ter sido feito. Entretanto, já que acharam melhor fazer, muito bem, agora aguentem as consequências. O resto, deixemos aos cuidados da justiça de Deus.