terça-feira, 6 de agosto de 2013

QUANDO É PRECISO OPTAR PELO QUE MAIS IMPORTA...

Estive pensando que muita coisa na nossa vida é apenas uma questão de escolha. Vivemos mal, estressados, preocupados, muitas vezes porque não sabemos dar prioridade aos afazeres e nem temos coragem de assumir aquilo que realmente importa, deixando de lado as convenções. Tenho chegado à mesma conclusão: não fazemos as pausas necessárias para repensar o nosso dia a dia, e assim vamos perdendo a oportunidade de evoluir.

Faço parte da geração de mulheres que cresceram lutando pela sua independência financeira. O foco sempre foi concluir o ensino médio, entrar na faculdade, trabalhar. Sei que só levo essa vida tranquila, morando em apartamento próprio, pagando meu próprio carro, porque tenho minha profissão. Mas venho pensando - há muito tempo - que tudo isso exige de mim um tempo precioso, que poderia estar sendo aproveitado com atividades que me fizessem mais feliz. Difícil era admitir que a médica independente e bem resolvida, na verdade, queria ficar em casa e cuidar do almoço da filha...

Não é verdade que não gosto do que faço. A sensação de ter ajudado uma criança a superar algum problema de saúde é maravilhosa. Entretanto, em 6 anos de faculdade e 4 de exercício da profissão, não aprendi a fazer da Medicina a minha vida. Tenho necessidade de respirar ares que não sejam os do consultório ou hospital, de conversar sobre assuntos que não sejam doenças. Não tolero trabalhar 24 horas seguidas: preciso dormir em casa, na minha cama, com a minha Lulu. Acho a carga horária a que os médicos se submetem desumana. Enfim, devo ser a ovelha negra da família de Hipócrates...

Pela total incapacidade de trabalhar à noite mantendo o bom humor, os plantões noturnos das sextas-feiras vinham sendo a minha via-crucis semanal. Uma noite mal dormida e um dia seguinte me arrastando pelos cantos da casa. Mas trabalhar à noite tem suas compensações - traduzidas nos adicionais no salário e na produtividade - e eu tenho meus gastos, de modo que fui suportando durante os últimos 20 meses. Até chegar o momento em que a sanidade mental falou mais alto.

Comuniquei hoje à minha chefia que estou desistindo do plantão. Abri mão de um dinheiro que talvez faça falta daqui a alguns meses, em troca de ter um final de semana inteiro em casa, cuidando de mim e da minha princesa. Optei por arriscar. Há opiniões contrárias. Algumas pessoas ainda estão presas à convenção de que médico deve ter um patamar financeiro x, conseguido às custas de 60h semanais de trabalho, e acham estranho eu me contentar com um carro usado, um apartamento no subúrbio, de 57m2... Não estou aqui fazendo apologia à simplicidade. Gosto de gastar, ir a restaurantes várias vezes na semana, comprar sem olhar o preço. Mas gosto muito, muito mais de ter tempo livre. Ir à praia todo sábado, dormir em casa todo dia, levar Ana Luiza pra escola e depois passear com ela no shopping à tarde. Não consegui fazer da Medicina a minha vida. Minha vida é Ana Luiza.

E é isso.