quinta-feira, 15 de setembro de 2011

PODANDO O JARDIM...

ATENÇÃO: se você veio aqui em busca de novidades sobre a princesa Lulu, nem continue a leitura. Este definitivamente não é um post materno. De vez em quando o Veleiro sente necessidade de voltar às origens e navegar por mares íntimos, pessoais, intransferíveis. Se quiser uma carona, seja bem-vindo e aproveite a viagem.

O que eu aprendi nestes últimos 3 meses? Que muitas vezes a gente tem que levar uma rasteira da vida para entender que estava escolhendo o caminho mais difícil. Que quando tudo dá errado podem acontecer coisas maravilhosas que jamais aconteceriam se tudo tivesse dado certo. Nestes últimos 3 meses eu tenho aprendido a gostar de mim.

Casei com meu primeiro namorado, depois de 10 anos juntos, e tenho certeza de que não o fiz só por empolgação. Era amor, daqueles de arrancar pedaço se acabasse. Amei tanto essa pessoa ao ponto de sair do conforto da casa dos meus pais para morar num lugar bem ruinzinho, fazer serviços domésticos até altas horas da madrugada, tendo que assistir aula no dia seguinte (ah, se esse Veleiro falasse...). Mas não me arrependo, porque era amor. Ter minha casa e acordar ao lado do meu marido já me completava.

Amilson, por outro lado, sempre pareceu estar incomodado com a rotina do casamento. Lembro de ter implorado - sim, implorado - algumas vezes para ele me levar a algum lugar. Meu marido sempre quis resolver tudo sozinho: era a vida dele, o dinheiro dele, os sonhos dele. Eu ficava ali, me esforçando pra encaixar um "nós" naquela individualidade toda. 3 meses de casamento e ele mal falava comigo à noite, só queria saber dos jogos no computador. 8 meses e, no auge de uma discussão, ele gritou que eu era muito chata e que era muito difícil conviver comigo. Eu peguei minhas coisas e fui pra casa de mamãe. Amilson em nenhum momento ligou ou pediu pra eu voltar: eu voltei mesmo assim.

Um casamento é feito de escolhas diárias, mas eu escolhi o caminho mais complicado: o de amar por dois. Meu amor era tão grande, tão imenso, que eu achei que seria suficiente. E amei tanto que veio Ana Luiza, porque, mesmo sem planejar, no fundo da alma eu tinha a impressão de que um filho poderia fazer Amilson se interessar mais pela família, e por mim. Mas Amilson viveu aquele momento como se não fosse com ele. Todas as dificuldades que eu obviamente passava com a gravidez, e ele só dizia que havia se decepcionado comigo porque eu não tinha "instinto" para ser mãe. Porque eu não suspirava com sapatinhos de bebê nem ficava alisando a barriga 24h por dia... Lulu nasceu e eu não consegui amamentar: ele passou a repetir que a culpa tinha sido da minha falta de paciência. E foi se afastando a cada dia. Não chegava perto de mim: dizia que não tinha vontade. Ficava irritado por bobagens, passava o domingo inteiro fora de casa - supostamente estudando - mesmo se esse fosse o único dia da semana em que eu não trabalhava e nossa família poderia fica reunida. Até que um dia eu cansei disso e perguntei se ele queria ir embora. Amilson só faltou dizer "Opa, só se for agora!": no dia seguinte ele já não estava mais em casa.

Amilson deu a entender, nas entrelinhas do que falou durante esses 14 anos juntos, que eu era uma pessoa muito difícil de conviver. Chata, mal humorada, resmungona, sempre insatisfeita com tudo. Quem me conhece desde a adolescência sabe que, de fato, nunca fui um poço de simpatia. Mas o que eu consigo enxergar hoje, nos meus dois ambientes de trabalho, no salão de beleza que frequento, até mesmo aqui na blogosfera, é que eu não sou alguém tão azeda assim. Tenho convivido com pessoas que me consideram sua amiga, apesar dos meus defeitos (quem não os tem?). Tenho aprendido muito com Ana Luiza e me tornado uma mãe bem melhor a cada dia (minha filha linda, saudável e feliz está aí para comprovar isso). Apesar da saudade dos bons tempos (porque não foram 14 anos só de mágoas), estou podendo aproveitar a tranquilidade de chegar em casa e não precisar suportar a indiferença de alguém que só entrava no quarto depois que eu dormisse, para evitar o óbvio. Estou cuidando de mim, afinal.

Então, volta não, Amilson, porque eu não preciso ser magoada como já fui durante esse tempo todo. Porque tem uma chama bem fraquinha começando a se acender dentro de mim, e eu não quero que você apague. Continue vivendo sua vida de homem solteiro, saindo à noite, conhecendo gente nova, fazendo o que te deixa feliz, e permita que eu aproveite esse momento de "podar meu jardim", com a tranquilidade de uma tarde de setembro. Pode ter certeza de que assim será melhor.

Se quiseres voltar
Volta não
Porque me quebraste em mil pedaços...

7 comentários:

Fabiana disse...

Nossa, Marcella, pra escrever um post deste tem que estar com a alma lavada ou pelo menos, quase lá.

Suas palavras, apesar de contar coisas MUITO tristes e revoltantes, estão com uma energia positiva, viu? Elas passam força. FORÇA. E nesse momento, é do que vc mais precisa.

Não te conheço pessoalmente, mas aqui pela blogosfera vc me passa ser uma pessoa sensata e legal.

E continue assim e que esse chama que começa a brilhar dentro de você, chamada auto-estima, cresça, se fortifique, dê flores.
Vc e sua Lulu merecem.

Bjos.

Vivian disse...

Má, fiquei arrepiada com esse post. Outro dia vc contou que acabou e só. Mas agora, com esse desabafo dá pra perceber que vc será muito mais feliz sem ele. O tempo se encarregará de acabar com as mágoas, tenho certeza. Sei que isso é clichê e que já deve ter ouvido muito, mas vc é tão nova, tem muito o que viver ainda.
Entao, tenho certeza, que vc será muito feliz, ao lado da sua filha. E torço muito para que vc encontre o seu caminho. Vc merece!
Bjo bem grande da sua amiga que a admira demais!

Kelly Resende disse...

Marcella, como bem disse a Fabiana, vc demonstrou muita energia positiva e força para superar essa fase difícil. Essa história de exorcizar o passado é importante pra que a gente consiga dar os próximos passos de alma lavada! Fico torcendo pra que isso passe bem rápido e que logo ele não seja mais do que uma pagina virada, e não possa mais te causar nenhum sofrimento.
Ah, vc fez muito bem em sair dessa! Não vale a pena ficar ao lado de quem não te dá valor.
Beijos

Jaciana Andrade disse...

Bom dia, Marcella! Acompanho o seu blog há um bom tempo, mais nunca deixei um comentário. Mais esse post, esse me arrepiou! Suas palavras, seu início de superação é vibrante aqui desse lado da tela! Continue com essa força! Vc e Lulu merecem sim dias melhores!
Q seu final de semana seja abençoado e de muitas alegrias!
Bjs p vcs!

JACIANA GOMES

Marcella Nathaly disse...

Obrigada pela força, meninas! =)

Anônimo disse...

Marcella, minha amiga querida! Que post mais maravilhoso! Não, desculpe a sinceridade, mas eu fiquei tão feliz por ler que vc está podando o seu jardim, está cuidando de vc, está se analisando e percebendo que vc é sim, muito especial!!!

Eu adorei essa auto-avaliação!
Amiga, como fiquei feliz em te ver recomeçando, em te ver assim!

Olha, vai ser só o começo, a primavera está só despontando e vc verá quantas flores lindas vão aparecer em seu jardim!!!!

Que esta chama brilhe a cada dia com mais intensidade! Linda, linda!

Mil beijos para vcs
e um obrigada de coraçao pelo carinho de sempre! Eu não te conheço pessoalmente, mas não acredito que seja azeda, acredito sim que vc é uma mulher de muita personalidade!

Beijos
Ju

Renata Maria disse...

Amiga, apesar do post conter coisas fortes, e até revoltantes, confesso que fiquei ogulhosissima ao ler suas palavras. Conheço você, conheço essa história, e lembro que no dia que vc me contou da separação eu te falei: Vai ser muito melhor para você !!! Talvez na hora vc n tenha entendido, afinal era um momento de sofrimento, mas como é bom perceber que as feridas estão cicatrizando, e que vc já consegue enxergar o quão infeliz estava, e que você (essa pessoa formidável), tem todo o direito, e o dever de ser FELIZ. Sempre da sua torcida !!!! Renata.