Comecei a dar plantão de 24h no sábado porque as coisas apertaram e o salário ficou curto demais. Na verdade antes da minha formatura eu e Amilson vivíamos na pindaíba tínhamos muuuuitas dificuldades financeiras, morávamos num apartamento péssimo, com uma vizinhança igualmente péssima, andávamos de ônibus (bem, pra ser sincera eu ainda ando, MAS ISSO VAI MUDAR EM BREVE!!!) e comprávamos só o estritamente necessário. Quando me formei tudo mudou, porque todo mundo precisa de médico e emprego sempre aparece (não é um emprego com "E" maiúsculo, mas paga bem!). Acontece que a que vos tecla quis ter tudo o que sonhava de uma só vez, e endividou-se pra valer. Além do mais, quem tem filhos sabe o quanto essas criaturinhas gastam. É um poço sem fundo!
Pois bem, trabalhar 4 dias na semana, manhã e tarde, onde Judas perdeu as botas, e temporariamente dar plantão 24h no sábado pareceram ser opções razoáveis para estabilizar as contas. Marido concordou, tudo em perfeita ordem. Aí veio esse bendito coração de mãe mudar todo o rumo da história...
Descobri que minha cabeça sempre esteve psicologicamente preparada para ficar o dia inteiro longe de Lulu, desde que isso fosse de segunda a quinta, conforme combinado previamente. Não haveria espaço para trabalho no final de semana, sexta, sábado e domingo seriam os dias em que eu e ela poderíamos matar as saudades uma da outra, e eu poderia brincar de mãe, em vez de brincar de médica. E não só minha cabeça pensava assim, como também a cabeça de Lulu. Então no primeiro sábado em que eu saí às 6 e meia da manhã Lulu ficou me olhando como se dissesse: "Mamãe, você não vai ficar comigo hoje?". E isso quebrou meu coração em mil pedacinhos. Amilson passou o dia com ela e a levou à casa da minha mãe, para distrair. E eu fiquei o sábado inteirinho com uma sensação horrível...
No último sábado Lulu chorou e quis ficar no meu braço o tempo todo, sem deixar que eu trocasse de roupa para trabalhar. E ficou chorando no carro quando foi me levar ao hospital. Aí eu cheguei no plantão e disse à minha chefe que não vou mais trabalhar 24h, vou ficar só com o meu plantãozinho da noite e danem-se as dívidas, pago como puder. E ela riu. Falou que ficou grávida durante a Residência e que a filha dela passava o dia com a avó, mas depois de adulta fez terapia e preencheu esse "vazio". Só que eu não quero pagar terapia para Lulu quando ela tiver 15 anos para tentar construir algo que deve ser construído na infância. Quero não!
Muito dura essa vida de mulher que precisa sempre escolher entre carreira e família. Talvez a história da mulher querer sair de casa e trabalhar fora não tenha sido assim tããão boa. Porque eu sempre quis ser médica, gosto muito de estudar e ajudar pessoas doentes, mas o que eu queria mesmo nesse momento da minha vida era ficar em casa e cuidar de Lulu. Nem na sexta-feira eu consigo fazer isso integralmente, porque sempre tem alguma coisa pra resolver, alguma conta para pagar no banco, esse bendito tratamento dentário que fui obrigada a fazer porque a dor de dente já estava me deixando louca... Lulu hoje nem quis passear olhando o mundo, ficou chorando e só se calou quando virei o carrinho e a deixei olhando pra mim. Parecia que ela estava com medo de que eu fugisse. E dormiu abraçada comigo na cama, brincando com os dedos da mão. Nem precisou cantar... Tá completando 6 meses de vida hoje, virando uma mocinha de verdade, e parece que aprendendo a sentir minha falta. E eu descobrindo que a única parte da minha vida que tem importância é quando estou ao lado dela...
Mas tenho que trabalhar ainda durante todo o mês de setembro porque já me comprometi com as outras médicas, só em outubro volto à rotina de antes. É uma pena que o salário de Amilson não dê pra segurar as pontas, porque eu acho que se pudesse também sairia daquele posto de saúde - que é um total atraso de vida - e ficaria só no plantão (para não esquecer os anos que passei na faculdade). Infelizmente, amor de mãe não paga a fatura do cartão...
Mulheres que puderam largar seus empregos e viraram mães em tempo integral: vocês é que são felizes!
13 comentários:
Oi Marcella, é uma dureza mesmo ter que deixar nossas pequenas pra trabalhar! Eu volto dia 22 e essa semana começou a adaptação da Clara na creche, nós 2 estamos sentindo bastante. Quando ela se agarra em mim com aquele desespero me dá uma culpa tremenda. Isso pq ela só ficou no máximo 2 horas, imagina qdo ficar o dia todo?
Abraços e boa sorte
sei bem o que é isso, meu filhote está com 15 meses e desde que ele nasceu nunca trabalhei 24h e na próxima segunda-feira vou começar, meu coração tá pequenino só de pensar em dormir longe dele, se u pudesse largaria tudo pra ficar com ele, mas assim como você, as dividas me trazem de volta à realidade, fazer o que, né?!
Parabéns pra sua linda Lulu por seus 6 meses de vida, que Deus abençõe e a proteja, sempre! grande beijo!
P.S: também sou pernambucana!!!
Marcella, logo que voltei da licença maternidade achei que não fosse dar conta, e pensei muito em ficar em casa, entretanto mudei de idéia. Mudei porque, além de nascer para ser mãe, nasci para trabalhar. Não sei ficar em casa, e acho que se me obrigasse à isso eu e o Lipe sofreríamos. Seria assim porque uma mãe tem que estar bem, estar feliz para ser uma boa mãe. Então procurei me organizar de tal forma que o tempo que estivéssemos juntos valesse pela qualidade, e não pela quantidade. Foi difícil, mas hoje estamos bem. Claro que não trabalho por capricho, pois também tenho contas para pagar, mas mesmo se não precisasse arrumaria alguma coisa para fazer...
A maternidade traz muita novidade pra gente, e isso faz com que fiquemos confusas, mas isso também passa.
Creio que com calma, tranquilidade e sem decisões precipitadas as coisas irão se resolver.
Pra mim funcionou assim.
Bj.
Oi Má!!
Que aperto no coração, guria, em ler seu post... fiquei aqui tristinha em saber o quanto está sendo difícil essa mini separação sua e da Lulu!
Mas olha, vai ficar tudo bem sim, é que ainda é um começo, ela ainda está processando na cabecinha dela a sua ausência temporária e vc, é claro, também!
Fique calma, e pense que vc está fazendo o seu melhor, está indo muito bem, e está preenchendo todos os "vazios" com muito amor e dedicação quando estão juntas.
Converse bte com ela, mesmo tendo só 6 meses, ela vai se sentir bem mais segura se vc explicar que a mamãe precisa trabalhar, que a mamãe ficará fora um dia para cuidar de outras pessoas que tb precisam da mamãe, que o papai vai ficar em casa cuidando dela com muito carinho, e principalmente, que a mamãe vai voltar loguinho :)
É muito bom conversar com os filhos sempre, independente da idade que eles tenham. Além de que é bom pra eles, faz um bem danado na gente pois estamos ouvindo nossa própria voz dizendo que tudo está bem!
Não pude deixar de pensar que agora vc deve estar trabalhando, então, minha amiga, bom trabalho! Não se culpe e não fique tão pra baixo, as coisas vão melhorar, vc vai ver :)
Um beijão bem carinhoso
Ju
Lulu está um charme no seu Super-carrão lilás!!! =)
Como é duro né, Má? Fez certo, seguiu seu coração. Se essa decisão fez se sentir melhor, ótimo!
Bjos
Marcella, quando acabou a minha licença maternidade eu voltei a trabalhar e a Bianca ficava com minha mãe, trabalhava de 14:00 as 22:00 h, na parte da manhã a Bianca ficava comigo, de tarde com minha mãe e por volta das 18:00 o Tiago pevaga ela, foram 3 meses enlouquecedores, a Bianca perdeu peso sem falar que tudo que acontecia meu marido e minha mãe me ligavam para me contar, eles viviam se desentendendo por causa dela. Consegui completar apenas 90 dias de retorno e resolvi sair.
Mas para ser sincera, é muito cansativo ser apenas mãe, tem dia que estou a flor da pele, pois "não faço nada além" de olhar a Bianca, preciso muito dos meus outros "eus".. etc..
Estou esperando a Bianca completar 1 ano para voltar ao mercado de trabalho, dai posso coloca-la num colegio ou escolinha.
Oi Má!!!
Tem selinho pra ti lá no blog!
Beijocas
Ju
Oi Marcella,
Cheguei aqui através do blog da Ju, e posso dizer que sei bem como é essa dor. A adaptação dos meus meninos na escolinha foi muito sofrida para mim e acho que chorei tanto, mas tanto, que consegui superar.
A decisão de voltar a trabalhar, o quanto trabalhar, etc, etc é muito pessoal. Estou muito feliz de estar de volta a ativa (aliás, eu estou ativíssima), mas respeita teu tempo, teu vínculo com ela, tua dor. É a melhor coisa que podes faer por vocês duas.
Estou te seguindo para acompanhar os próximos capítulos!
Bjs
Marcella
Concordo com você não ponho e nem tiro nenhum virgula, como é dificil ter que sair pra trabalhar e deixar essas pequenas, me dói tanto, tenho uma pequena que tbém esta com 6 meses, quando chego em casa meu mundo parece que para, o sorriso e a festa que ela faz alegra todo meu dia, me dói muito ter que deixa-la, mas a vida não permite que eu fique em casa com ela. Mais se permitise eu ficarei com toda certeza...
Querida, seguidora e futura seguidora enfim amiga....estou passando aqui divulgar meu sorteio.
Estou sorteando um BOLO CENOGRAFICO infantil, gostaria que participasse ou se puder divulgue.
Agradeço desde já o carinho e atenção.
Bjs
www.tatidesignercake.blogspot.com
Oi Marcella!
Tem um selinho pra ti lá no meu blog!
Bjs
OI Marcella,
esse é o dilema de todas nós. Eu muitas vezes tenho a certeza que lugar de mãe é em casa, excomungo a (in)feliz que queimou o sutiã, etc...
Outra vezes tenho certeza que temos que trabalhar.
Mas sempre manter o equilíbrio. Não dá para dedicar a carreira integralmente.
É, vida de mulher moderna. Dureza mas a gente aguenta!
beijos
Chris
http://inventandocomamamae.blogspot.com/
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