quarta-feira, 18 de julho de 2007

UM DIA, DEPOIS OUTRO...


Em meio à morte de papai e à semana que antecede meu casamento (dois eventos tão díspares, mas quis o Senhor que acontecesse tudo ao mesmo tempo...), sobra muito pouco tempo para atualizar o Veleiro.
Eu tinha muito medo de enfrentar o momento da morte de papai, ainda que viesse me preparando para ele já há algum tempo. Mas Deus dá a força necessária para superarmos as dificuldades, cada um de acordo com sua capacidade. Eu quis cuidar dos detalhes do enterro, escolha de caixão, funeral, cemitério, primeiro porque não havia mais ninguém com a cabeça no lugar para fazer isso, depois porque eu achava que devia isso a papai, por todas as broncas que ele já tinha resolvido pra mim. Não quis deixar Amilson ou outro genro dele tomar a frente, e Deus segurou firme todos os meus passos. Na verdade, prometi que não iria ver papai deitado num caixão, coberto de flores, mas acabou que eu tive que liberar o corpo no necrotério e até ajudei a arrumá-lo... Vai entender a vontade de Deus...

Chorar de verdade, como Mellina e mamãe, é verdade, não chorei. Não saberia dizer o porquê. Certo é que chorei bastante até a véspera do dia em que ele morreu, cada vez que voltava pra casa depois de passar horas no hospital. Vi muito sofrimento no rosto de papai, sobretudo nos últimos dias, depois que ele foi entubado. As enfermeiras diziam que ele não estava sentindo nada - e realmente não havia nenhuma resposta a qualquer estímulo, mesmo doloroso - mas aprendi na aula de Anestesiologia que mesmo pacientes em coma sentem dor, ainda que não possam expressar. E eu via que papai sofria a cada inspiração, porque seu pulmão já não tinha forças para se manter. Insuficiência respiratória decorrente de metástase pulmonar foi a causa do óbito, mas quanto à atitude do médico residente tenho minhas reservas, e pra ser sincera não concordo com o que está escrito no atestado não... Mas enfim, aquele não era o momento pra eu arengar com ele...

Eu vi no atendimento que papai recebeu por parte da equipe médica aquilo que alguns professores - mais humanos - tentam passar durante o curso: o médico tende a se afastar do paciente quando a batalha contra a doença está perdida. Não estou aqui para julgar ninguém, até porque serei médica daqui a 2 anos e não sei como me comportarei, mas digamos que tenha sofrido na pele o que é não ter uma palavra de conforto e pensar que o caso não interessa mais ao médico assistente. Aprendi muito com esse internamento de papai, e meus futuros pacientes vão agradecer por isso...

A verdade é que agora ficou um vazio... Parece realmente que arrancaram um pedaço de mim. Não consigo imaginar papai morto debaixo da terra, ainda ouço a voz dele pela casa chamando Téo, de vez em quando falo baixinho para não acordá-lo, achando que ele está dormindo no quarto... Eu vi o corpo dele, toquei, fiquei olhando até derrubarem a última pá de terra em cima do caixão, mas para mim é como se papai tivesse ido ao céu, como pensam as crianças, do jeitinho que sempre foi. Pra mim papai ainda está tão vivo que não pode ter virado apenas um pedaço de carne que vai se decompor com o tempo. Pode parecer besteira, mas é um confronto de idéias que acontece em alguém que teve 4 semestres de aula de anatomia e visitas ao IML... Eu sei de tudo o que acontece a uma pessoa que morre, mas na minha cabeça a pessoa que eu enterrei não foi meu pai: meu pai foi ao céu, virou estrela, do jeito que era, não vai se consumir até virar só osso. Freud deve explicar...

Dá vontade de chorar às vezes, dá saudade de ouvir os passos dele, de dizer "Papai, cheguei" toda vez que entrava em casa... São essas coisas que só o tempo irá ajudar a minimizar, mas eu sei que um dia vai ficar mais fácil...

Mas, enfim, Deus fecha uma porta e abre uma janela, e faltam apenas 8 dias para o meu casamento. Eu e o Capitão estamos sofrendo de Tensão Pré-Nupcial, ambos estressados e sem paciência um com o outro... É bom porque a gente gasta o abuso antes de casar, pra depois passar o resto da vida só amando e querendo bem... :D

Quero agradecer ao apoio de todos os meus amigos nesse momento difícil. E dizer que vamos seguir em frente, porque agora eu, mamãe, Mellina e Sandra temos uma pessoinha mais perto de Deus, para interceder diretamente por todas nós, não é mesmo? :)

Beijo a todos!

3 comentários:

Renata Maria disse...

Isso mesmo !! Sr. Mário virou estrelinha para rezar lá do céu, por todos nós q ficamos aqui embaixo, com a missão de tocar a vida em frente. Bj :D

Mônica Dias Teles disse...

A vida continua, né?
Deve ser uma dor absurda, mas quem fica tem que se conformar....
Invejo sua força; se fosse comigo eu não a teria, certamente...

E agora pensar nos últimos detalhes pro dia especial...

Bjosssss

Simone Lima disse...

não é facil mesmo naum... mas nesse momento pensa nas coisas boas e principalmente no casamento. bjao