segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

APRENDENDO A DIRIGIR


Semana do Natal e Jesus - como sempre - já deve estar entediado... Deve estar pensando "Como eles puderam transformar nessa doidice a semana em que se celebra o meu nascimento?". Vocês repararam? O centro da cidade está um caos, o shopping está uma selva, até a Internet já está congestionada (deve ter gente gastando horas mandando seus e-mails de Natal...)! Todo mundo correndo para comprar os presentes do amigo secreto (aquela brincadeira legal em que você dá uma camisa de marca e recebe um resta-um...), se empanturrando de comida nas confraternizações, disputando a tapa uma blusa na Riachuelo... Isso é muita doidice! Quem foi que disse que isso é o Natal?

Entediada na verdade estou eu. Não agüento ver nem a Globo e sua musiquinha. Não sou chata não, estou até disposta a assistir o especial de Roberto Carlos, acho legal! Mas é essa correria que me estressa. É essa gente que troca os valores, que faz uma ceia humanamente impossível de ser comida numa noite só, que gasta horrores num vestido de festa para celebrar nem sabe o quê. É a propaganda do shopping Boa Vista que diz "O Natal é dar e receber" e estimula o consumo desenfreado até nas crianças pequenas. O Natal é um momento pra gente pensar que o Rei do Universo nasceu numa manjedoura, simples, sem luxos. Que Nossa Senhora ficou em silêncio contemplando a maravilha que tinha saído do seu ventre, e que São José aceitou a tarefa de ser pai do seu próprio Senhor, assim, de maneira humilde, sem revelar a ninguém. A gente comemora porque é o aniversário de Jesus, e concordo até com os presentes, mas nada exagerado, o aniversariante é ele, não nós. Essa deveria ser a semana da paz, mas o mundo transformou na semana da correria, das compras de última hora, da fila no supermercado para comprar o peru. O médico que passa os casos da enfermaria no Memorial disse ontem que Natal é festa chata, de blá-blá-blá religioso, reunião de família, e que bom mesmo era o Revéillon, comemorando na praia, champanhe até amanhecer. É justamente esse tipo de comentário que me deixa entediada...

E o Memorial... Bem, está indo. Todo início é difícil, eu sei. É complicado chegar num lugar onde todo mundo já se conhece e trabalha de um jeito, e você tem que ficar correndo atrás para pegar o ritmo. Num primeiro momento ninguém confia que você seja capaz e não quer te dar muita oportunidade. Não é culpa do meu colega de plantão: ele é exageradamente carismático e tem um jeito de falar com todo mundo como se fosse parente dele. O resultado é que as menos cuidadosas facilmente se encantam (hã? quem? o quê?), e foi o que me pareceu com relação às auxiliares de enfermagem de ontem. E olhe, gente enxerida, sinceramente, eu não gosto não, seja homem, seja mulher. Uma vez que o cara é casado, na minha opinião tem que haver limite; entretanto se o cara mesmo não dá o limite o negócio desanda. Mas tudo bem, isso não é problema meu, se alguma copeira falasse com o Capitão passando a mão no rosto dele, aí sim, eu viraria uma lavadeira em dois tempos. O que é meu problema é o despeito com o qual elas me trataram por eu ser mulher e ter tomado boa parte do tempo do "Dr." Assim: o plantão era ele e elas, aí chego eu e ocupo a atenção, só por sermos bons amigos (e não apenas colegas de plantão). Meu problema é ter que ouvir de uma delas "Doutor, não vá embora, o senhor acha que nós vamos preferir ficar com uma figura masculina ou com ela?". Aí, não, é muita esculhambação pra mim! O cara é casado, minha filha, vá procurar um auxiliar de serviços gerais que não tenha compromisso, faça-me o favor!

Enchi também porque ninguém me deixou fazer sozinha aquilo que eu me preparei durante toda a semana para fazer. Exemplo: se você tira a carteira mas não tem prática de direção, aí estanca o carro quando o sinal abre, o povo começa a buzinar e o carona diz "Vai, deixa eu tirar o carro, passa para o outro banco", mesmo que ele tenha tido a melhor das intenções - não querer que você ficasse aperreada com as buzinas - por acaso ele realmente te ajudou? Você pensou com seus próprios neurônios? Você tinha todas as informações na cabeça - girar a chave, acelerar, soltar a embreagem - mas na hora ele não te deu a chance de encadear passo a passo essas informações e tomar a atitude: ele pegou a chave e assumiu a direção. Você não fez nada. Você não mostrou que podia. E ficou parecendo que você não tinha aprendido a dirigir.

Resumindo, o que aconteceu no plantão de ontem foi isso.

Bom, post enorme, lê quem quer. Feliz Natal a todos.


Um comentário:

Simone Lima disse...

vc ja passou tb por varios lugares e sabe q no começo é complicado mesmo, as vezes é complicado sempre bj